Outubro de 1955. Na Lixa, vivia-se para sobreviver, a preto e branco, sem esperança, em dias melhores, aparentemente… Sem futuro, pensava-se, porque os homens nunca sabem que não são eles os donos dos seus desígnios.
Pacata, a povoação foi sobressaltada por um acontecimento inusitado: a morte de um homem bom às mãos da forças do regime implacável, ou melhor, que se julgava dona da verdade absoluta, como se esta verdade fosse possível entre os homens…Óh, como andámos equivocados…
Como andavam enganados, como hoje, todos continuamos enganados pela mania de sermos “deuses”…e pseudo-donos da história, da história dos nossos dias, esquecendo que os nossos dias são grãos de areia de um plano que não é dos homens, mas Divino.
A população indignou-se. Não gostou, melhor: deplorou o acontecimento fatídico que vitimou um pai de família, trabalhador, humilde, sensato, cordato…
Que teria este homem que motivasse tamanha violência? Nada, dizem os que o conheceram.
E algum homem merece perecer às mãos dos homens? Serão os homens juízes sensatos?
E que violência foi esta senão gratuita e desproporcional…sabendo-se que a justiça dos homens nunca é justa…
O assassinato de António Pinheiro de Almeida, 48 anos, um lavrador de Vila Cova da Lixa ( pai do Sr. Pinheiro Taxista, avô do Leonel, motorista da Rodonorte, que partiu para as mãos do Criador recentemente) a 31 de Outubro de 1955, pela GNR, não deixou ninguém indiferente e motivou uma carta de indignação a António de Oliveira Salazar, presidente do Conselho, a “pedir contas”, como se tal fosse atendível, pelo acontecido trágico, lamentável, que atestava a falta de humanidade (leia-se o bom senso e o sentido humanista…) do regime. Atestava – no fundo – a implacável ira da obstinação (que obstinação têm os homens pelo poder…) pelo controlo de tudo o que mexe…
Este é um dos episódios, triste (que homem pode determinar a vida de outro homem?) , digamos, narrados nos 13 painéis da exposição do PCP sobre os 50 anos da revolução de 25 de Abril de 1974, inaugurada este sábado na Casa da Cultura Dr. Leonardo Coimbra, na Lixa.
Jerónimo de Sousa, ex-líder do Partido Comunista, esteve presente na iniciativa, juntamente com autarcas e convidados, entre os quais o presidente da União de Freguesias de Vila Cova da Lixa e Borba de Godim, José António Guimarães.
13 painéis recordam a luta contra o regime da “outra senhora” na Lixa, numa exposição do PCP, onde o partido tenta lembrar o seu papel na luta contra o fascismo “português ” que que terminou com a revolução de 25 de Abril de 1974.
Até ao início de novembro, esta mostra está visível na casa da cultura, cujo patrono é o nome maior do pensamento nascido na Lixa: Leonardo Coimbra, filósofo que três dias antes de partir para a eternidade se converteu ao Cristianismo.