Eurico Silva, árbitro internacional felgueirense de Polo Aquático, dirige mais de 100 jogos por época em Portugal e dezenas pela Europa. Aos 42 anos de idade, confessa o seu grande objetivo.
Eurico Silva, árbitro internacional de Polo Aquático, tem um sonho: chegar aos Jogos Olímpicos. Arbitrar nos próximos, em 2024, em Paris, será difícil, mas estar em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde decorrerão os Jogos de 2028, é uma meta.
Aos 42 anos, Eurico Silva, não esconde que estar no maior certame desportivo do planeta seria a cereja no topo do bolo da sua carreira como árbitro de Polo Aquático. “O meu sonho é, sem dúvida, arbitrar nos Jogos Olímpicos em 2028, em Los Angeles. Nunca nenhum árbitro português esteve nos Jogos Olímpicos”, lembra.
“Chegar lá é um objetivo. Sou felgueirense e grato às pessoas de cá que sempre me apoiaram. Um árbitro felgueirense nos Jogos Olímpicos era algo que seria bom para todos. É um objetivo difícil, mas vou tentar. Vou fazer tudo para conseguir”, confessou ao Felgueiras Diário.
Árbitro internacional, Eurico Silva, é um “produto” da Piscina de Felgueiras e do Foca – Clube de Natação de Felgueiras. “A minha ligação à modalidade nasceu em 1993 quando a Piscina de Felgueiras foi inaugurada. A inauguração contou com um grupo de Polo Aquático. Achei piada ao jogo e interessei-me. O Polo Aquático começou em 1995 com o Professor Carlos Meinedo, no Foca, e fiz parte dessa equipa, tendo jogador até aos 22 anos”, contou.
Quando a carreira de jogador terminou, Eurico Silva dedicou-se à arbitragem. “Fui ganhando gosto pela modalidade e quando deixei de jogar comecei a dedicar-me mais à arbitragem. Diziam na altura as pessoas entendidas que tinha jeito, e tanto é que fui dos mais novos a arbitrar uma final do campeonato masculino em Portugal”.
O percurso rico na arbitragem começou em 1998, por baixo, como não poderia deixar de ser. “Comecei a arbitrar pelos regionais, como todos, e tive um bom professor, Paulo Ramos, que me ensinou muito e a quem estou agradecido para sempre. Foi o melhor árbitro português de sempre, sem dúvida e devo-lhe muito. Aprendi muito por mim e também com o falecido Pedro Guilherme, do Foca. A carreira foi crescendo, fui ganhando experiência, até chegar a internacional”.
O juiz felgueirense assevera que “o trajeto é longo, duro e difícil” na arbitragem. “Começamos por baixo, a arbitrar miúdos que têm pais e na bancada são muito difíceis, pois exercem uma pressão que vem de trás do pescoço e não é fácil. Além disto, temos de estar concentrados, aprender muito, suportar muito, para crescermos e avançarmos na carreira”, assegura.
Árbitro internacional em 2009
Quando já tinha “chegado ao topo” da arbitragem em Portugal, Eurico Silva, partiu para uma nova etapa na carreira: ser internacional. E conseguiu-o com sucesso.
“Em 2009 tirei o curso LEN (Liga Europeia de Natação), em três fases. Numa Universidade da Hungria decorreram as primeiras fases e a última na Sicília, em Itália. Em termos nacionais, em 2009, estava no máximo. Quando cheguei a internacional, foi dar passo a passo para ter uma maior atividade fora do país”, revela.
Entre os muitos jogos e competições que arbitrou no estrangeiro, Eurico Silva não esquece o Campeonato da Europa, a “Liga dos Campeões” de Polo Aquático. “O ponto mais alto até agora foi a participação no Campeonato da Europa Sénior em Split, na Croácia, como árbitro neutro. Foi algo inesquecível”, afiança.
No meio da “máquina” de um Campeonato desta dimensão, Eurico Silva sentiu-se bem e não mais esquece a experiência. “Depois desta experiência nunca mais se é o mesmo. É emocionante, não há palavras, de facto. Comecei o campeonato com nervos miudinhos, mas depois passou. Foquei-me em dar o melhor possível e consegui que tudo corresse bem”.
Um árbitro português chegar a uma prova deste gabarito é quase surreal. E Eurico Silva explica porquê. “Portugal é um país marginal na modalidade e isso torna tudo muito mais difícil para todos, incluindo os árbitros. Estamos numa segunda divisão europeia, quando comparados com as grandes potências da modalidade. No futebol, somos uma potência mundial, no Polo Aquático, estamos em segundo plano na Europa”, conta.
Como é arbitrar um jogo de Polo Aquático?
O Polo Aquático é uma modalidade com pouca expansão em Portugal. Mas é exigente para jogadores e árbitros. Arbitrar não é fácil, diz Eurco Silva. “É difícil, muito mais do que possa parecer. Os jogadores têm 90 por cento do corpo escondido na água, é um desporto com muito contacto físico, tecnicamente complexo e isso torna arbitrar uma tarefa muito exigente que exige conhecimentos, experiência e total concentração. Formar um bom árbitro de Polo Aquático é difícil, por isso muitos desistem pelo caminho”.
E o público também não ajuda. “As pessoas esquecem-se que os filhos estão em formação e que os árbitros também. Não há nenhuma tolerância em relação aos árbitros e isso não ajuda nada”, lamenta.
Eurico Silva diz que uma das suas missões passa por ajudar jovens árbitros e isso é algo que lhe dá prazer. “Gostava de deixar legado, isto é, que um dia os árbitros que ajudo, possam dizer aquele rapaz ajudou-me. Ficaria feliz com isso”.
Por fim, Eurico Silva, que se confessa um felgueirense dos sete costados, instado a revelar o que significa para si a Piscina de Felgueiras, onde fez o seu tirocínio, dispara com sentimento: “a Piscina de Felgueiras é um lugar de culto para mim. Foi lá que tudo começou”.