Com um notável serviço aos outros, sobretudo aos mais desfavorecidos, uma reconhecida competência profissional, uma participação relevante em instituições da terra, Fernando Coimbra, foi uma figura que entrou para o galarim dos mais notáveis filhos da Lixa, onde viveu, cultivou amizades e serviu. Sim, a sua vida foi de serviço aos outros.
Quando Fernando Namora lançou o célebre “Retalhos da Vida de um médico” – um livro no qual conta a sua experiência pessoal como médico de província no Portugal a “preto e branco”, corria o ano de 1949 – , Fernando Coimbra estava no último ano do curso de Medicina.
Tinha 28 anos de idade. Prestes a sair da mais prestigiada academia do país, estava aquele que viria a ser um grande médico, com um coração ainda maior. Seria através do exercício da Medicina que viria a revelar as suas mais admiráveis qualidades de ser humano. Conclui a sua formação académica em outubro de 1950, aos 29 anos.
Fernando Coimbra, que nasceu a 9 de novembro de 1921, não foi só um médico excecional. As suas qualidades humanas e o seu altruísmo, o coração gigante, são atributos que o distinguiram e pautaram a sua vida.
Filho de uma família da Lixa, natural de Borba de Godim, viveu a maior parte da sua vida fiel as suas raízes.
Ainda jovem foi para o Porto para prosseguir os seus estudos na Escola Industrial do Porto. Filho do meio de três irmãos, talentoso a jogar futebol passou grande parte da sua juventude com a bola nos pés, alinhando pelo FC Lixa e, mais tarde, na Académica de Coimbra. No entanto, teve que abandonar o desporto devido a problemas de saúde.
Curioso é o facto de ter começado por estudar Engenharia, no Porto, mas passado dois anos cruzou-se com aquela que viria a ser a sua grande paixão: a Medicina.
Sobrinho de médicos lixenses, viu a sua irmã padecer de tuberculose e acompanhou a sua mãe tratando-a nos seus últimos anos de vida, o que o viria a ser determinante para trocar a Engenharia pela Medicina. Mais tarde, tirou a especialidade de Cardiologia. Não terá sido por acaso: um homem bom, um médico virtuoso, especializou-se nos problemas do órgão de onde brota o amor.
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Fernando Coimbra concluiu a sua licenciatura a 19 de Outubro de 1950, aos 29 anos.
Exerceu medicina em consultório privado na sua terra natal, a Lixa, onde se instalou na casa da família. Trabalhou no Hospital de Amarante e foi diretor do Centro de Saúde de Felgueiras.
Também foi diretor da Santa Casa da Misericórdia Felgueiras e Diretor do Hospital da Misericórdia de Felgueiras.
A sua participação nas instituições da terra foi outro aspeto relevante da sua vida.
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No associativismo, destacam-se os cargos de Presidente da Casa do Povo de Borba de Godim, de Presidente dos Bombeiros Voluntários da Lixa (entre 1961 e 1964), membro da direção do Futebol Clube da Lixa e sócio da Assembleia Recreativa da Lixa.
“Não é nada” era a resposta que dava aos pacientes que lhe perguntavam quando custava a consulta…
A sua esposa, Maria José, a sua família, amigos, a medicina e a caça, foram paixões que cultivou durante a sua vida. A sua forma pacata de estar, de ver, de sentir, de viver, distinguiam-no. Era um estilo de estar e de viver que transmitia serenidade.
O gosto pela caça levou-o a trocar a sua viagem de finalistas à Madeira por uma semana em Covelinhas, no Douro, para caçar.
Amigo do próximo, exercia medicina pura, sem olhar a meios para ajudar quem precisava.
Em pleno mês de Janeiro, com um frio de rachar, atravessou o rio Borba para ajudar uma doente às 4 da manhã, narra quem o conheceu bem.
“Não é nada” era a resposta que dava aos pacientes que lhe perguntavam quando custava a consulta.
Pela Páscoa e pelo Natal, os seus doentes e amigos não se esqueciam da sua generosidade e retribuíam em géneros os serviços que recebiam de tão ilustre clínico, amigo do povo e sobretudo dos pobres. Arroz, cabrito, galinhas e legumes, eram-lhe oferecidos em jeito de agradecimento.
Um outra curiosidade que atesta a dimensão humana deste homem, é que além das consultas gratuitas, ainda oferecia medicamentos, que recebia como amostras dos laboratórios, aos que tinham recursos financeiros para os comprar na farmácia.
Apreciava uma boa e amena cavaqueira com os amigos e isso não o impedia de “dar” consultas à mesa do café a quem lhe pedia ajuda.
Foi Presidente da Casa do Povo de Borba de Godim, Presidente dos Bombeiros Voluntários da Lixa, membro da direção do Futebol Clube da Lixa e sócio da Assembleia Recreativa da Lixa
Não raras vezes, quem a ele recorria, até nem tinha nenhuma doença, mas fazia-o para ouvir as suas palavras reconfortantes, de um ser humano ímpar.
Na caça, aprecia sobretudo a beleza natural, em especial da região do Douro.
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Acompanhado pelo seus fiéis amigos de quatro patas, ora a Nikita, ora o Jou ou outros, de arma em punho, calcorreava pedras e socalcos, mas preferia ver uma perdiz a voar e admirar o esplendor desse momento do que disparar.
A paixão pela caça era tamanha que quando foi submetido a uma cirurgia para colocar um pacemaker pediu ao cirurgião para o colocar do outro lado do habitual para poder continuar a dar uns “tiritos”, e quando perdeu parte da visão do olho direito, não deixou de treinar para conseguir atirar com os dois olhos abertos.
Homem de família, adorava sua esposa, a sua filha, netos e bisneto. Estava sempre presente no acompanhamento familiar que muito prezava.
Homem de palavra, bondoso, respeitado e respeitador, com um coração gigante, dava importância aos pequenos aspetos da vida. Era um bom ouvinte e partilhava a alegria de viver com os que o rodeavam.
Faleceu a 04 de maio de 2010, aos 88 anos de idade.
Vai ser homenageado no âmbito do 29º aniversário da elevação da Lixa a cidade, numa iniciativa da União de Freguesias de Vila Cova da Lixa e Borba de Godim, agendada para o dia 22 de junho, pelas 15 horas, na Casa da Cultura Dr. Leonardo Coimbra.
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