O setor do calçado, o mais representativo em Felgueiras, exportou 2.347 milhões de euros, um novo máximo histórico, em 2002, revelou a APICCAPS.
Em comparação com o período homólogo do ano anterior, assinala-se um crescimento de 22,2%. Todos os segmentos da fileira registaram crescimentos expressivos, diz ainda aquela associação.
Segundo a APICCAPS, Portugal exportou 76 milhões de pares de calçado, no valor de 2.009 milhões de euros (pela primeira vez o setor ultrapassou barreira dos 2 mil milhões de euros).
Comparativamente ao ano anterior, assinala-se um acréscimo de 10,5% em quantidade e 20,2% em valor. Face a 2019, as exportações estão já a crescer mais de 13,8%, acrescenta a mesma fonte.
Numa análise mais fina à evolução das exportações, Portugal está a crescer em praticamente todos os mercados mais relevantes como Alemanha (crescimento de 11,7% para 433 milhões de euros), França (mais 15% para 384 milhões de euros) e Países Baixos (mais 25% para 306 milhões de euros), indica a APICCAPS.
As vendas para países extra-comunitários que já ascendem a 20% do total exportado (392 milhões de euros em 2022). Uma década antes, em 2012, os mercados extra-comunitários significavam apenas 9% do total exportado também merecem destaque.
O preço médio do calçado exportado situou-se nos 26,40€, o que representa um crescimento de 8,7% face a 2021.
“O ano de 2022 foi de afirmação do calçado português nos mercados internacionais, para onde se destina mais de 95% da produção do setor”, considera Paulo Gonçalves. Ainda assim, de acordo com o porta-voz da APICCAPS, “foi um ano mais complexo do que os números à primeira vista faziam adivinhar, uma vez que aos efeitos da pandemia e à Guerra da Ucrânia se associaram outros fatores de incerteza, em especial a escassez de mão-de-obra qualificada, o aumento acentuado da inflação e seus reflexos na política monetária, a emergência de novos canais de distribuição, a afirmação de novos concorrentes, as alterações nas preferências dos consumidores, as incertezas sobre a evolução do consumo e a disrupção nas cadeias de abastecimento internacionais”.
Componentes para calçado disparam
Também com um bom desempenho nos mercados externos está o setor de componentes para calçado. As exportações aumentaram 30,2% para 65 milhões de euros. O segmento “solas e saltos”, em particular, assinala um crescimento de 20% para 32 milhões de euros, diz a associação.
Conjuntura abranda em 2023
Não obstante os bons resultados em 2022, o abrandamento económico generalizado está a causar alguma apreensão junto do universo do setor, alerta a APICCAPS.
De acordo com o Boletim Trimestral de Conjuntura da APICCAPS, elaborado em parceria com o Centro de Estudos e Economia Aplicada da Universidade Católica do Porto, “a evolução da conjuntura da indústria portuguesa de calçado dá sinais de abrandamento”. Com efeito, “as empresas continuam a considerar o estado dos negócios positivo, mas a percentagem das que o consideram melhor do que um ano antes diminuiu”. De uma maneira geral, “as empresas de maior dimensão e com maior orientação exportadora fazem uma apreciação da situação mais favorável do que as restantes”.
No quarto trimestre do ano, a produção e o emprego ainda evoluíram positivamente, mas a carteira de encomendas teve “uma evolução menos favorável do que em trimestres anteriores”. Também a tendência para subida dos preços atenuou, quer em Portugal quer nos mercados externos. A percentagem de empresas que afirmam debater-se com escassez de encomendas está a aumentar, “mas as preocupações empresariais são ainda lideradas pelo preço das matérias-primas e pela escassez de mão-de-obra qualificada”.
Refletindo a evolução da carteira de encomendas, de acordo com o Boletim de Conjuntura “as previsões dos inquiridos apontam para uma ligeira diminuição da produção, no início de 2023, e uma estabilização do estado dos negócios num nível satisfatório”.
“O ano de 2023 será particularmente exigente para as empresas exportadoras”, prevê o porta-voz da APICCAPS, “face a um enquadramento macroeconómico internacional de alguma contenção”. “Importa por isso reforçar a atividade de promoção externa do setor, para que seja possível potenciar novas janelas de oportunidade”, concluiu Paulo Gonçalves.