Um dirigente que nunca virou a cara à luta e que esteve sempre à frente do tempo. Aos 71 anos deixou-nos. O seu estilo de estar no futebol é uma imagem de marca que perdurará.
Poucos anos depois de ter nascido, a 1 de setembro de 1951, quando fugia aos pais para ir ver o seu Felgueiras, Fernando Sampaio, estava longe de imaginar que um dia o clube estaria nas suas mãos. Sim, o clube pelo qual deu tudo, foi por si dirigido não raras vezes.
Fernando Sampaio, um torradense apaixonado pelo futebol, começou a trabalhar na desaparecida SIC, aos 11 anos de idade. Um dia despediu-se e foi ajudar o pai nas lides de trolha. Depois, ingressou na empresa Tofel, em Torrados, até ser chamado para servir o país, em Angola.
O futebol foi sempre a sua paixão. Organizou torneios, participou em várias competições, fomentou o futebol na sua terra natal, até chegar ao dirigismo, em 1986.
Foi a convite do saudoso Álvaro Costa, empresário de Lagares, na altura presidente do FC Felgueiras, que Fernando Sampaio chegou a Chefe do Departamento. Repartia o cargo com Joaquim Peixoto, dono do Café Popular, que também já partiu para as mãos do Criador.
A partir daqui, a sua ligação ao FC Felgueiras não mais terminou. Teve apenas um interregno quando foi Delegado da Liga de Clubes durante quatro épocas.
Integrou elencos vários elencos diretivos encabeçados por figuras de relevo locais e lidou com treinadores muito conhecidos no panorama nacional, como Manuel Barbosa, o Professor Neca, o Professor Edmundo Duarte, Mário Reis, entre outros.
No final da década de 90 do século passado, assumiu o cargo de Diretor Executivo, como profissional, na direção liderada por Júlio Faria, ex-presidente da Câmara Municipal.
Exímio nas escolhas, contratou Diamantino Miranda para treinador e garantiu um plantel de grande qualidade com a cedência, por empréstimo do Vitória de Guimarães, de Fernando Meira, Pedro Mendes, Nuno Mendes e Lixa.
Descobriu uma panóplia de jogadores que dariam nas vistas, como Khadim, Rochinha, Paulo Sérgio, Rui Pataca e Manduca.
Lançou vários jogadores da formação como Filipe Teixeira e Zamorano que, mais tarde, jogariam no principal campeonato português e, no caso de Filipe Teixeira, no colosso PSG.
O final da década de 90 e os anos 2000 e 2001 foram os mais desafiadores para o dirigente. O clube tinha problemas financeiros e desportivamente foi despromovido…sem nunca ser.
O engenho de Fernando Sampaio e do advogado Paulo Samagaio, depois do alerta de Arlindo Pinto, sobre a infração cometida pelo clube marcoense na última jornada do campeonato, permitiu que o FC Felgueiras ficasse na 2ª Liga no âmbito do chamado “caso Marco”.
Fernando Sampaio deixaria o clube em 2001, depois de anos de intenso trabalho e muito desgaste. O seu esforço em prol do clube nem sempre mereceu reconhecimento, mas os detratores foram sempre em muito menor número que os que lhe reconheciam uma capacidade extraordinária para sair das situações mais complexas.
Dois anos depois, voltaria a casa. O que encontrou? Um clube com um passivo gigantesco, problemas sem fim para resolver, mas aceitou o desafio, num elenco diretivo com muitas caras novas como Carlos Diogo, Luís Antunes, António Viana e Carlos Castro.
A missão não foi fácil, muito pelo contrário. O que Fernando Sampaio tentava era adiar uma morte anunciada por asfixia financeira do emblema.
No defeso da época 2004/2005, acabaria por ver o clube desaparecer num processo muito conturbado.
Com o FC Felgueiras extinto, Fernando Sampaio esteve na origem da fundação do Clube Académico de Felgueiras, juntamente com Fernando Martins, o primeiro presidente do clube, que mais tarde se viria a fundir com o FCF-Felgueiras, dando origem ao Futebol Clube Felgueiras 1932.
Três anos após a fundação do CAF, Fernando Sampaio assumiu a presidência.
Pelo meio fica uma passagem pelo cargo de Diretor Desportivo do Penafiel e a recusa em ingressar no Vitória de Guimarães, para desempenhar idênticas funções.
Quem com ele privou, reconhece-lhe um sentido ímpar de gestão no dirigismo desportivo e uma capacidade invulgar de observação.
Sem ser perfeito, foi um dirigente que prestou um relevante serviço ao clube do seu coração para o qual queria sempre o melhor, como um pai quer para um filho.
Na definição de um amigo, Fernando Sampaio havia de ter lugar, como dirigente, numa equipa de futebol celestial com estrelas, que tal como ele partiram cedo de mais. Isto porque “ele sabia estar”…